A provocativa pergunta do título acima foi feita por Graham Fuller, ex-vice-presidente do Conselho Nacional de Inteligência da CIA, em artigo na revista Foreign Policy. A resposta de Fuller à questão é: nada. Ou seja, boa parte dos conflitos étnicos, colonialistas, nacionais e ideológicos atuais permaneceria mais ou menos como é, por uma simples razão: o islamismo não está na raiz dessas crises.
Fuller vai mais longe e afirma que as religiões em geral servem para esconder as verdadeiras razões dos conflitos. Ele diz que os europeus teriam feito as Cruzadas de qualquer maneira, com outro nome, porque os interesses eram mais políticos e econômicos. A aventura colonial ultramarina usou como desculpa a conversão religiosa dos nativos para que as potências européias expandissem seus domínios.
O especialista diz que a mesma lógica se aplica à ocupação do Iraque, que seria rejeitada mesmo se os iraquianos fossem cristãos. “Em lugar nenhum do mundo as pessoas aceitam ocupação estrangeira e a morte de cidadãos do país por tropas estrangeiras. De fato, grupos ameaçados por forças externas invariavelmente se escoram em ideologias apropriadas para justificar e glorificar sua luta de resistência. A religião é uma dessas ideologias”, escreve Fuller.
Ele afirma também que a religião islâmica só muito recentemente entrou no discurso da questão palestina, e o especialista lembra que foram os árabes cristãos que iniciaram o movimento nacionalista árabe.
Por fim, Fuller diz que o discurso do Ocidente que vincula o islamismo ao terror esquece que boa parte dos movimentos terroristas do último século nada tinha a ver com muçulmanos. Nem mesmo recentemente o terrorismo praticado por grupos islâmicos tem sido significativo, pelo menos na Europa: segundo a Europol, dos 498 atentados no continente em 2006, 424 foram cometidos por grupos separatistas, 55 por extremistas de esquerda e 18 por outros grupos diversos. Apenas um foi perpetrado por muçulmanos.
Para Fuller, com tantas questões profundas envolvidas no conflito entre Ocidente e Oriente, como imperialismo, nacionalismo, poder e recursos naturais, a religião não pode ser invocada como fator central, como querem fazer os neoconservadores americanos.