quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A religião da Nature

[Daniel Lüdtke]

Com objetivo de se opor ao movimento de reafirmação criacionista da Igreja da Inglaterra no século 19, nove cientistas decidiram formar uma sociedade onde pudessem desenvolver suas pesquisas científicas longe da intromissão da igreja e do fogo do inferno – criaram, assim, o X-clube. Esse grupo era formado por cientistas ilustres, entre eles, Thomas Huxley, Joseph Hooker, Herbert Spencer e Thomas Hirst. Este último, ao descrever a primeira reunião do X-Club, afirmou que a união do grupo foi motivada pela “devoção à ciência, pura e livremente desassociada dos dogmas religiosos”. Nasceu aí mais uma religião.

A “religião científica” do X-Club também ganhou a uma “bíblia” para difusão de suas idéias: a revista Nature. Joseph Hooker e Thomas Huxley foram os fundadores do periódico, publicado a partir de 4 de novembro de 1869. Até hoje, inúmeras contribuições foram dadas pelo semanário. A Nature, por exemplo, foi a primeira revista a divulgar a descoberta do raio X, em 10 de março de 1896, além dos posteriores estudos sobre a estrutura em dupla hélice do ADN e do buraco na camada de ozônio. No campo do evolucionismo, entretanto, ao defender sua posição dogmática da origem da vida, a Nature comete pecados.

Na capa de 28 de abril de 2005, a Nature estampou a seguinte nota: “Esta revista contém material sobre evolução. A evolução por seleção natural é uma teoria, não um fato. Este material deve ser abordado com mente aberta, estudado cuidadosamente e considerado criticamente”. A priori essa parece uma afirmação sincera de cientistas conscientes da carência do empirismo em muitas das teorias macro-evolutivas. Mas trata-se de ironia das mais ferrenhas. O texto imita os adesivos usados sobre os livros- texto do Ensino Médio dos Estados Unidos. O editorial e a matéria principal abordam a preocupante infiltração do criacionismo no mundo acadêmico e possíveis atitudes para freá-lo.

Outro editorial da Nature trouxe a seguinte afirmação: “O mundo faz simplesmente mais sentido sem a existência do deus, e as intervenções religiosas são ofensivas ou irrelevantes”. Nota-se, dessa forma, o posicionamento dogmático da revista desde os primórdios até hoje. A revista defenderá seu posicionamento mesmo sob a necessidade de uma guerra santa.

Pecados

Em janeiro de 2003, a Nature estampou numa de suas capas o achado do dinossauro chinês de quatro asas. Esta descoberta foi considerada uma das maiores do ano – por explicar como as aves, descendentes dos dinossauros, teriam aprendido a voar. Entretanto, este achado foi uma fraude, segundo o palentólogo Tim Rowe. O fóssil seria, na verdade, restos de duas espécies de dinossauro e uma de ave. Rowe disse que alertou o editor da Nature, Henry Gee, sobre a possibilidade de fraude, mas Gee afirmou não ter “nada definitivo” sobre o assunto.

Nota-se que, mesmo na ausência de certezas, supostas descobertas que corroboram o evolucionismo são alardeadas. Trata-se de apologética científica.

Outro pecado da Nature, bem como da comunidade científica em geral, é tirar conclusões precipitadas a partir de um pequeno achado fóssil, apresentando sua reconstituição como verdade absoluta, prova cabal de sua crença.

Um exemplo claro foi a nova descoberta de nove dentes de gorila, datados de 10,5 milhões de anos, indicados como importantes para “ajudar a preencher uma grande lacuna no registro do fóssil”. Mas como esses poucos dentes são evidência de que os homens vieram de um ancestral símio? Lá no meio do texto, os paleoantropólogos admitem: “Nós não sabemos nada sobre como a linha humana emergiu realmente dos grandes macacos”. Tecnicamente essa descoberta não seria uma evidência para o evolucionismo devido à imprecisão de dados, mas é retratada como tal.

Por outro lado, descobertas que confirmam a Bíblia são pouco divulgadas ou somadas a outros dados que inibem a possibilidade de serem compatíveis com as crenças cristãs. O artigo “Human evolution: Pedigrees for all humanity”, publicada em 30 de setembro de 2004, na área de estatística populacional, garantiu que toda a humanidade converge num único ancestral e que este existiu há poucos milhares de anos. Esta notícia, que mais parece apontar ao relato bíblico de que Noé seria ancestral comum a todos os seres humanos, aparece na Nature sob ótica antiteísta.

Em 1998, a Nature publicou "Leading scientists still reject God". No texto, mostra-se que a crença em Deus entre os cientistas de elite enfraqueceu a partir do início do século – apenas 7% acreditam. Enquanto isso, os outros 93% são apresentados como não tendo religião. Mas a grande verdade é que esses 93% também têm uma religião. Nela, Deus não é o objeto de adoração, mas a própria ciência. Esses crentes do evolucionismo farão qualquer coisa para proteger sua doutrina de influências “heréticas” como o Criacionismo, ou que Inteligent Design, que chamam de “Criacionismo disfarçado”. A Nature, por sua vez, como principal veículo dessa religião, continuará manipulando descobertas e informações de modo a confirmar algo que não se pode precisar empiricamente: a origem da vida.

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