sábado, 26 de janeiro de 2008

A ciência desvendou mesmo as dez pragas do Egito?

[Daniel Lüdtke]

“As pragas do Egito: a ciência explica”, publicou Marcos Guterman, editor do estadão.com.br, no seu blog hospedado pelo site do jornalão paulista. O texto trata do artigo do biólogo Roger Wotton, da University College London, divulgado na revista acadêmica Opticon 1826, onde se afirma que “as pragas do Egito, que desmoralizaram o faraó e acabaram por levar à libertação dos hebreus, tiveram causas naturais” – como resumiu Guterman. A análise do biólogo também foi manchete em Time: “Pragas do Egito 'causadas pela natureza, não Deus'”.

Apesar de alardeado, seu estudo é raso e apresenta conclusões fantasiosas. Nada digno da alcunha “ciência”, como garantiu Guterman. A explicação para as dez pragas, que elimina a possível intervenção de Deus, é resumidamente a seguinte:

A verdadeira (e mirabolante) causa das pragas

Depois de um período de falta de chuva, aconteceu uma dramática mudança de tempo. Fortes chuvas fizeram com que sedimentos da terra caíssem na água. “Como os sedimentos eram vermelhos, aconteceu uma dramática mudança de coloração do rio”, explica Wotton. Essa é a primeira praga relatada no livro de Êxodo. Segundo o biólogo, o excesso de sedimento matou os peixes, resultando num cheiro desagradável da putrefação dos corpos.

Por acaso, migrou uma grande quantidade de rãs, que depositaram seus ovos no terreno arenoso, umedecido pela recente inundação. Por ocasião do nascimento dos insetos, houve explosão de rãs no Egito. O ambiente encharcado, somado aos peixes em estado de putrefação, torna-se ideal para a proliferação de piolhos (3ª praga) e moscas (4ª praga). Essas moscas, por sua vez, em busca de sangue para se alimentar, vão ao encontro dos animais e do homem, espalhando infecção por todos os lados. Acontece então a peste nos animais (5ª praga) e as úlceras nos humanos (6ª praga). De acordo com Wotton, foi nesse tempo também que os gafanhotos foram em busca de comida e devoraram as plantações dos egípcios (8ª praga).

Após estes acontecimentos, teria acontecido um aquecimento na região, a mudança repentina das massas de ar que teria gerado chuva de granizo (7ª praga). Este seria também o tempo das trevas (9ª praga) que cobriram o Egito. A Bíblia, entretanto, fala de três dias de escuridão total. Wotton sugere a possibilidade de serem “dias míticos”, com duração diferente do que conhecemos hoje.

Por fim, Wotton assume não ter posição definida quanto à morte dos primogênitos (10ª praga), mas arrisca: eles podem ter morrido por alguma doença infecciosa.

É interessante como hoje, pessoas ilustres e acadêmicos podem se dar ao luxo de escrever devaneios e chamarem isso de Ciência (com letra maiúscula).

Como surgem os mitos

Para Wotton, o mítico foi somado à história original da libertação de Israel, porque “este é um relato escrito gravado seguindo gerações de transmissão verbal, com a inevitável distorção dos resultados”. Assim teria surgido a lenda.

Acontece que as evidências apontam para Moisés como autor do livro de Êxodo. Assim, não se trataria de uma história passada e repassada, mas escrita por uma testemunha ocular – e mais que isso, o protagonista.

Duas vezes o livro de Êxodo declara que Deus falou para Moisés escrever os acontecimentos ou as leis em um livro (17:14; 34:27) e também diz que “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor” (24:4). Estas reivindicações internas também são encontradas em outros livros do Antigo e Novo Testamento.

Outros argumentos a favor da autoria mosaica: (1) todo o Pentateuco – formado pelos cinco primeiros livros da Bíblia e que são atribuídos tradicionalmente à autoria de Moisés – contém características idênticas de estilo e essas peculiaridades são ao mesmo tempo distintas do restante do Antigo Testamento; (2) em todo o esboço de Êxodo, nota-se que o livro foi composto e planejado por uma única mente e não se trata de uma obra grosseira de retalhos; (3) devido às vívidas descrições do texto, o autor foi claramente uma testemunha ocular dos eventos; (4) o autor informa costumes detalhados do povo de Israel e demonstra íntimo conhecimento da terra e da rota do êxodo, o que corrobora a idéia de que o autor era um judeu educado, que em algum momento viveu no Egito (ver At 7:22) e que era familiarizado com parte da Península do Sinai; (5) o Pentateuco contém a maior porcentagem de palavras egípcias de todo o Antigo Testamento e arcaísmo que remetem o texto ao tempo da 18ª Dinastia, a época mais provável em que Moisés viveu.

Quando a Galileu também desvendou o mistério

Em “Arqueologia da Bíblia”, reportagem da revista Galileu em abril de 2004, o assunto das dez pragas também foi analisado. A explicação do milagre também é bastante hipotética. Leia abaixo o texto como foi publicado.

Pode ter ocorrido na época uma sucessão de catástrofes ecológicas encadeadas, que teriam começado com a poluição do Nilo por partículas de terra vermelha associadas a algas nocivas. A poluição teria forçado rãs e sapos a saírem para terra firme e morrerem de fome, deixando moscas e mosquitos livres para se reproduzirem. A mortandade dos animais e as úlceras estariam ligadas a doenças transmitidas pelas moscas e mosquitos. A escuridão seria uma chuva de granizo particularmente forte, na qual a areia úmida se tornou depósito de ovos de gafanhotos. A morte dos primogênitos estaria ligada a toxinas produzidas nos cereais estocados em virtude da chuva. Como os primogênitos eram os filhos mais importantes, provavelmente teriam sido os primeiros a se alimentar, ingerindo os grãos contaminados.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Descoberta faz mídia admitir: “A Bíblia pode ser tomada como fonte de documentação histórica”

[Daniel Lüdtke]

O Estadão Online e a portal Terra noticiaram hoje a descoberta de um selo de 2,5 mil anos, encontrado em Jerusalém, onde se lê em hebraico antigo o nome da família Tema, que estava entre os primeiros exilados a retornar a Judéia depois do cativeiro babilônico – segundo o livro de Neemias.

Curiosamente, as matérias não transpareceram sarcasmo em relação à Bíblia, como é comum, e ainda apontaram que o achado “poderia confirmar a teoria que indica que a Bíblia pode ser tomada como fonte de documentação histórica”.

A afirmação de Eilat Mazar, arqueóloga que dirige a escavação, é bastante precisa: "É um nexo entre as provas arqueológicas e o relato bíblico, ao evidenciar a existência de uma família mencionada na Bíblia".

De maneira geral, os dois veículos de comunicação trataram a notícia com imparcialidade. Só a seção de notícia de Terra, todavia, chamou Davi – importante rei israelita – de “mítico”. Acontece que sua existência já foi indicada pela descoberta da Estela de Tel Dã (ver abaixo), e não trata-se mais de uma lenda, como supunham os críticos da Bíblia.

É interessante que as matéria fizeram certo alarde com a descoberta desse selo e o apresentaram quase como uma prova da veracidade da Bíblia, enquanato tantos outros achados arqueológicos já foram divulgados, mas sem muita badalação. Seguem abaixo algumas dessas descobertas.



Estela de MerneptahColuna comemorativa, datada de cerca de 1207 a.C., que descreve as conquistas militares do faraó Merneptah. Israel é mencionado como um dos inimigos do Egito no período bíblico dos juízes, provando que Israel já existia como nação neste tempo, o que até então era negado pela maioria dos estudiosos. É a menção mais antiga do nome "Israel" fora da Bíblia.


Tijolo babilônico que traz nome de NabucodonosorO achado arqueológico traz a seguinte inscrição em cuneiforme: "(eu sou) Nabucodonosor, Rei de Babilônia. Provedor (do templo) de Ezagil e Ezida; filho primogênito de Nabopolassar”. Vale notar que por muito tempo se afirmou que a cidade da Babilônia era um mito – e muito mais lendário ainda seria o rei Nabucodonosor.


Tabletes de Ebla – Cerca de 14 mil tábuas de argila foram encontradas no norte da Síria, em 1974. Datadas de 2.300 a 2.000 a.C., elas remontam à época dos patriarcas. Os tabletes descrevem a cultura, nomes de cidades e pessoas (como Adão, Eva, Miguel, Israel, Noé) e o modo de vida similar ao dos patriarcas descrito principalmente entre os capítulos 12 e 50 do livro de Gênesis, indicando sua historicidade.


Papiro de Ipwer – Oração sacerdotal escrito por um egípcio chamado Ipwer, onde questiona o deus Horus sobre as desgraças que ocorrem no Egito. As pragas mencionadas são: O rio Nilo se torna sangue; escuridão cobrindo a terra; animais morrendo no pasto; entre outras, que parecem fazer referência às pragas relatadas no livro de Êxodo.


Estela de Tel Dã – Placa comemorativa sobre conquista militar da Síria sobre a região de Dã. A inscrição traz de modo bem legível a expressão "casa de Davi", que pode ser uma referência ao templo ou à família real. O mais importante, todavia, é que menciona, pela primeira vez fora da Bíblia, o nome de Davi, indicando que este foi um personagem real.


Textos de Balaão – Fragmentos de escrita aramaica encontrados em Tell Deir Allá, que relatam um episódio da vida de "Balaão filho de Beor" e descrevem uma de suas visões – indícios de que Balaão existiu e viveu em Canaã, como afirma a Bíblia no livro de Números 22 a 24.


Obelisco negro e prisma de Taylor – Estes artefatos mostram duas derrotas militares de Israel. O primeiro traz o desenho do rei Jeú prostrado diante de Salmaneser III oferecendo tributo a ele. O segundo descreve o cerco de Senaqueribe a Jerusalém, citando textualmente o confinamento do rei Ezequias.


Inscrição de Siloé – Encontrada acidentalmente por algumas crianças que nadavam no tanque de Siloé. Essa antiga inscrição hebraica marca a comemoração do término do túnel construído pelo rei Ezequias, conforme o relato de 2 Crônicas 32:2-4.


Selo de Baruque descoberto em 1975, provando a existência do secretário e confidente do profeta Jeremias.


Palácio de Sargão II – Descoberto em 1843, o palácio de Sargão II, rei da Assíria, pôs fim a negação de sua existência, conforme mencionado em Isaías 20:1.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Eu vejo gente morta! – nos seriados e na vida real

[Daniel Lüdtke]
Conversar com os mortos e ajudá-los a solucionar negócios pendentes que os prendem ao plano terrestre são as principais tarefas de Melinda, personagem do seriado “Ghost Whisperer”, protagonizado por Jennifer Love-Hewitt. Em entrevista à imprensa, Jennifer afirmou que “descobriu que possui um ‘pequeno dom’ mediúnico”, como publicou O Estado de S. Paulo, no suplemento “TV & Lazer”, em 6 de janeiro.

O drama sobrenatural do seriado, exibido pela Sony, estreou em setembro de 2005 e hoje está na terceira temporada; já foi visto por 11,4 milhões de telespectadores nos Estados Unidos e domina audiência do horário. Na entrevista divulgada pelo Estadão essa semana, a atriz e cantora Jennifer Love-Hewitt conta como recebeu o tal “pequeno dom”. Leia a entrevista na seqüência:

'Recebi convites para ir a vários velórios'

LOS ANGELES - Jennifer Love-Hewitt é aquele tipo de atriz que acredita que pode ser seu personagem. Quando interpretou Audrey Hepburn em um telefilme, Jennifer passou a se vestir apenas com figurino dos anos 50. Agora, com a Melinda Gordon em Ghost Whisperer (Sony, quintas, 22h), a atriz descobriu que possui um "pequeno dom" mediúnico. No set da série, a atriz falou à imprensa internacional sobre essas experiências sobrenaturais.


Na última vez que conversamos, você disse que havia vivido algumas experiências sobrenaturais. Esses eventos continuam?

Sim. Sempre acontece algo aqui e ali, mas nada assustador. Apenas algumas coisinhas...

Quais coisinhas?Qual foi a última coisa que aconteceu?

Ah, estávamos filmando em uma rua atrás do set e havia umas sete ou oito pessoas da equipe. De repente começamos a sentir alguém puxando nossas roupas. Não sabemos como explicar o que aconteceu.

Você sente que tem um dom?

Tive experiências, mas isso não é algo em que eu queira me aprofundar. As experiências me provaram que, além de Melinda e do meu trabalho, o que estamos fazendo aqui é especial e que pessoas como James Van Praagh (médium e inspirador da série) possuem um dom apurado. Não sei se existem pessoas como as que Melinda vê, mas acredito que elas deixam uma energia para nos dizer algo.

Como isso afeta você?

Adoro. Pego todos os lados bons do trabalho de Melinda e nada do lado ruim. Não preciso ficar acordada até tarde trabalhando, como ela. Mas existem aspectos da vida dela que adoraria ter. Por exemplo, falar com fantasmas. Acho que seria incrível ter essa experiência ao menos uma vez.

Com qual fantasma você gostaria de conversar?

Com qualquer um, mas não com os assustadores... Infelizmente, meu dom é diferente. É um pequeno dom que me permite viver através do dom de Melinda. E agradeço por todos os dias em que sigo a jornada dela, pois é fascinante.

Você já se consultou com James Van Praagh?

Já, algumas vezes. Pude falar com Alan, um amigo meu que morreu há muito
tempo e que foi um tipo de mentor para mim. Soube que era ele, porque houve coisas específicas que ele me disse. E também falei com minha avó. Foi muito legal. Foi interessante vê-lo em ação. Todos têm um dom e o dele é único e é ótimo fazer parte disso.

Foi assustador?

Não. Achei muito interessante. Quer dizer, tenho certeza de que, se eu chegasse à noite em casa e houvesse um fantasma na minha sala, minha resposta seriadiferente. Seria: "Nunca mais quero ver um fantasma! Foi muito assustador e obrigada por perguntar (risos)." Mas não. Foi maravilhoso.

Como o papel de Melinda afetou sua vida?

No primeiro ano da série, fui convidada para vários velórios (risos)! Esperei minha vida toda para ser convidada para eventos, mas não desse tipo! Foi estranho. Há pessoas que não falam nada, mas andam na minha direção e me olham estranho. Aí penso que tenho duas opções. Posso assustá-las e dizer algo como: "Ok, sua avó está aqui". Ou posso falar: "Tudo bem, você está limpa." E deixá-las voltarem às suas vidas sem saber se há ou não um fantasma em seus cangotes.

Na web, a seção “Seriados etc”, de globo.com, apresenta notícias sobre “Ghost Whisperer”, e informa que a atriz principal, Jennifer, “perdeu o medo da morte depois de virar Melinda” e passou a entender o estado do homem na morte. "Eu não conseguia nem imaginar que isso poderia acontecer com alguma pessoa querida ou comigo mesma, mas aprendi com a Melinda que a morte não é o fim de tudo", garantiu a atriz.

Na mesma página, no link “mais notícias”, estampa-se a chamada: “VEJO PESSOAS MORTAS - Melinda Gordon não é a única em linha direta com o além. Conheça os outros”. O link leva a outra página com casos paranormais em outros seriados. Veja abaixo.

01. SUPERNATURAL - A cena geralmente é a mesma: faz frio, começa uma música macabra e BUUU... Lá vêm os fantasmas para mandar o recado. É com o objetivo de calar essas almas de outro mundo que os irmãos Winchester percorrem os EUA se arriscando.

02. GHOST WHISPERER - Desde criança, Melinda tem o dom de se comunicar com os mortos para ajudá-los a resolver as pendências da vida anterior. Ela deve conviver com mais pessoas mortas do que com as vivas.

03. MEDIUM - Alisson se comunica tão bem com os espíritos, que usa sua mediunidade para solucionar crimes. Nada de DNA ou impressões digitais; basta ouvir as dicas do outro lado. Grissom ficaria com inveja.

04. LOST - A proposta da série não é bem se comunicar com o mundo espiritual - se bem que a gente nunca pode afirmar nada sobre LOST. Mas o pai do Jack, por exemplo, ficou aparecendo por um tempão e não largava do pé do filho.

05. COLD CASE - Já reparou que sempre que Lilly Rush ou Kat Miller resolvem um caso, as vítimas voltam de alguma maneira para agradecer? Geralmente, elas aparecem na sala de arquivos e dão um sorrisinho de obrigado. Descansem em paz!

No Brasil, “Ghost Whisperer” também ganhou seus fãs. Sônia Viana, por exemplo, que mora em Santo André (SP), postou seu comentário no mural da página de “Seriados etc”: “Adoro essa série. Ela é a que mais se aproxima da realidade espiritual”.

E não são apenas Sônia e a atriz Jennifer as influenciadas por esse tipo de mensagem espiritualista. Contraditoriamente, a mídia enfatiza a evolução, enaltece a Igreja Católica (ver Mídia catequizada e Igreja em alta) e dissemina os conceitos sobrenaturais do Espiritismo – fazendo proselitismo de temas como vida após a morte, reencarnação e experiências místicas. Ela, todavia, nega-se a abrir espaço para os princípios e filosofias enraizados na Bíblia.

O texto de Eclesiastes 9:5-6 é enfático: “Pois os vivos sabem que morrerão, mas os mortos nada sabem; para eles não haverá mais recompensa e já não se tem lembrança deles. Para eles o amor, o ódio e a inveja há muito desapareceram; nunca mais terão parte em nada do que acontece debaixo do sol”. Outras passagens como 1 Tessalonicenses 4:14 falam da morte como um “sono” e, como em 1 Timóteo 6:16, apontam para Jesus Cristo como o “único que possui imortalidade”.

Na Bíblia, a vida de um indivíduo é formada por uma soma indivisível de corpo (pó da terra) e espírito (fôlego de vida), como apresentado em Gênesis 2:7. Nenhum dos dois vive separadamente . Assim, por ocasião da morte, qualquer forma de vida ou consciência da pessoa deixa de existir: “e o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o Deus” (Eclesiaste 12:7).

Dessa forma, a Bíblia proíbe a consulta aos mortos ou práticas semelhantes. Em Deuteronômio 18:9-14, os israelitas são advertidos quanto às práticas pagãs de consulta aos mortos: "Quando entrares na terra que o SENHOR teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará (...) nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR”.

Assim, as aparições que acontecem de indivíduos já falecidos (como no caso de Saul que viu a Samuel, segundo a narrativa de 1 Samuel 18), são manifestações demoníacas, “porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Coríntios 11:14) e pode tomar qualquer outra forma corpórea. Por isso Deus abomina a prática de contato com os “mortos” – demônios, na verdade.

Mas a doutrina bíblica do estado do homem na morte não é menos esperançosa que a de Jennifer, que descobriu que “a morte não é o fim de tudo”. Ao invés de perambular pela terra ou por outros planos, a Bíblia afirma que os que morreram crendo em Cristo despertarão de seu sono e o verão face a face. “Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida”, assegura a passagem de João 5:28 e 29.

Enquanto as pessoas não estudam a Bíblia, a mídia as confunde com a enxurrada de filosofias fantasiosas e maléficas. “Ghost Whisperer” é só mais um dos tantos sucessos de TV que são baseados em espiritualismo. Jennifer Love-Hewitt pode achar que essas experiências místicas não são problema– “apenas algumas coisinhas” –, mas na realidade, fazem parte de um plano de engano que já parece ser o “que mais se aproxima da realidade espiritual”. Afinal, aparece na TV!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Kaká, virgindade e mídia

[Daniel Lüdtke]

A declaração de Kaká sobre sua virgindade até o casamento foi destaque na mídia mundial. O meia do Milan e da Seleção Brasileira, foi capa da edição italiana da revista Vanity fair, e falou de seus princípios bíblicos sobre o sexo. A revista chegou às bancas européias em 6 de junho e gerou discussões sobre castidade entre os solteiros.

"Optamos por chegar castos ao casamento. A Bíblia ensina que o amor verdadeiro é alcançado apenas com o casamento, um laço de sangue no qual a mulher perde a virgindade. Para nós, a primeira noite foi magnífica", comentou Kaká, 25, que casou com Caroline Celico em 23 de dezembro de 2005.

Logo após a publicação da revista, o assunto de virgindade veio à tona. A tribuna, por exemplo, jornal do litoral paulista, publicou em 12 de junho uma pesquisa entre jovens solteiros e constatou que 69,8% deles não considera a virgindade importante. A partir daí o doutor em teologia e autor do livro “Teologia e ética do sexo para solteiros”, Natanael Moraes, ressalta o diferencial do comportamento do jogador. “Kaká não teve medo nem vergonha de assumir uma posição bíblica de abstinência sexual pré-marital. Isso foi muito positivo”, assegurou Moraes.

Importância dos valores

Nota-se que, na maioria dos casos, a virgindade antes do casamento relaciona-se a princípios de vida cristãos. "Sou um jovem normal com valores fortes. Sou religioso, seguindo a confissão evangélica, e tento viver seguindo os preceitos da Bíblia", declarou Kaká.

Em 1995, por exemplo, 251 mil jovens americanos participavam da Campanha Nacional Pró-Abstinência, iniciada pela Igreja Batista do Sul. Nesta campanha os membros assinavam o compromisso de não manter relações sexuais até o casamento. Dentre as denominações que uniram-se ao movimento, estavam as igrejas Adventista do Sétimo Dia, Assembléia de Deus e Igreja Pentecostal de Deus.

Todavia, embora os evangélicos estejam com a maior porcentagem de jovens que chegam virgens ao casamento, o número tem caído nos últimos anos.

De acordo com pesquisa publicada pela revista Eclésia, em setembro de 2002, 52% dos jovens evangélicos já teve relações sexuais antes do casamento. Destes, metade tem vida sexual ativa e a idade média da perda da virgindade é de 14 anos para os rapazes e 16 para as moças.

Influência da mídia

Jorge Rios (nome fictício), 26, nasceu num lar cristão e nunca se afastou de sua igreja. Rios, todavia, praticou sexo pré-marital ainda na adolescência. “Eu me arrependo do que fiz. Foram experiências traumáticas. Acredito que o sexo deve ser feito dentro do casamento, onde há uma preparação mental e direcionamento para aquilo. É só no casamento que o sexo é seguro”, relatou Rios. Segundo Jorge Rios, a decisão do fazer sexo é unicamente do jovem. Entretanto, a mídia tem um papel muito grande na formação do caráter. “Eu fiz sexo por que quis”, argumentou Rios. “Mas fui muito influenciado por filmes pornôs e outras informações de apelo sexual da mídia. Essas coisas ficam na nossa cabeça, e o que a gente tem na nossa cabeça é o que a gente faz; isso é o que controla nossas atitudes”, completou.

O jornalista Michelson Borges confirma a participação da mídia no desincentivo à virgindade pré-marital. “A mídia contribui para a formação do pensamento ‘se todo mundo está fazendo, por que não eu?’. Mas quase nunca divulga as conseqüências da exposição exagerada aos conteúdos de cunho sexual”, garante Borges.

“E qual é o contexto ideal para se ter a primeira relação sexual, com a sensação de ser amado e respeitado?”, pergunta Borges. “Certamente não é nos relacionamentos do tipo apresentado na mídia popular, em geral, em que o ser humano é visto como mero objeto de prazer, muitas vezes descartável. O melhor contexto para uma relação estável, fundada em amor e respeito e, sobretudo, abençoada por Deus continua sendo o do casamento”, conclui.

Mudança de paradigmas

Em Teologia e ética do sexo para solteiros, Moraes fala que foi na Revolução Francesa que o sexo pré e extra-marital se popularizou. Foi neste tempo que Deus foi declarado mito, e elegeu-se a razão como deus e norma de conduta. “O processo descristianizador da Revolução Francesa contestou o rígido controle da vida sexual dos fiéis, por tanto tempo exercido pela Igreja Católica. De modo que, além das mudanças políticas, religiosas e sociais, também fomentou uma mudança radical na ética sexual, especialmente as relações pré-maritais”, afirmou Moraes.

“Do ponto de vista puritano do sexo como um mal necessário para a procriação, chegamos à concepção popular do sexo como algo necessário para recreação”, ironizou Samuele Bacchiocchi em seu livro The Marriage Covenant. “Numa época em que a permissividade e a promiscuidade sexuais prevalecem, é imperativo para nós cristãos reafirmarmos nosso compromisso com o ponto de vista bíblico acerca do sexo como uma dádiva divina para ser desfrutada somente dentro do casamento”, completou.

De acordo com Natanael Moraes, se o sexo continuasse sendo praticado somente dentro do casamento, como orientava a Igreja, existiriam menos problemas de saúde, emocionais, sociais e, principalmente, espirituais. “Por isso parabenizo o exemplo de pessoas como o Kaká. Se ele, que é famoso, prestes a se tornar o melhor jogador do mundo, se absteve do sexo antes do casamento, os jovens não deveriam se envergonhar em ter a mesma atitude”, destacou Moraes.
O próprio Kaká não disse que foi fácil permanecer virgem. "É evidente que não foi fácil, sou um jovem normal. Não foi fácil chegar ao matrimônio sem ter estado com uma mulher. Se hoje nossa vida é tão bela, é porque soubemos esperar", concluiu.

Midiolatria

[Daniel Lüdtke]

Corpo imóvel, olhos atentos, mente aberta. Os adoradores, em posição de reverência, veneram a divindade. Nada pode atrapalhar seus instantes de culto. Sentem prazer indizível em desfrutar desses momentos sagrados, passando horas e horas em meditação. Os praticantes desta religião são os mais assíduos, não ficando um dia sequer sem contato com sua fé.

Ao acordar, a primeira coisa que fazem é passar momentos em adoração matinal. No trabalho ou na escola, rápidas fugas para comunhão. De volta ao lar, prostram-se imediatamente ao deus. No almoço, entre uma garfada e outra, olhadelas de fé. À tarde, impossível ficar sem culto. À noite, horário em que os templos estão mais cheios, nada melhor que meditação para aliviar o estresse do dia agitado. Hora de dormir, um último adeus àquele que permaneceu todo o dia ao seu lado. Assim, dormem ao som da voz do deus.

Cada dia mais cultuada, a mídia é maior e mais nova religião do mundo. Adeptos de toda a parte do planeta formam a cadeia crescente dos midiólatras. Televisão, internet, rádio, revistas e jornais são algumas das divindades que compõem o ciclo de adoração. Para alguns, eles são importantes, para outros, todavia, são essenciais para a existência.

Não faz muito tempo que as pessoas buscavam a religião como meio de escape para aliviar sentimentos ruins, como tristeza ou depressão. Entretanto, este é exatamente um dos motivos que têm levado milhares de pessoas a determinadas mídias, como a internet, por exemplo. Este meio de escape dos problemas é apontado pela Associação de Psicologia Americana como um dos sintomas de alguém que está viciado em internet.

Em uma pesquisa feita pela AOL (América Online), 87% dos entrevistados disseram que sentiriam muito a falta de acesso online. Outros 64% afirmaram que não conseguiriam mais viver sem internet. Exagero ou não, percebe-se aí claramente os primeiros indícios de midiolatria.

A internet é o meio de comunicação que apresenta maior crescimento. Os analistas do Morgan Stanley prevêem que, no final de 2003, a internet possuirá 536 milhões de adoradores, e que 85% dos usuários de PCs em todo o mundo terão acesso à web - que bênção!?

A TV, um dos mais antigos símbolos da midiolatria, também continua ganhando mais adeptos. A pesquisa "A Voz dos Adolescentes", realizada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), constatou dados relevantes sobre essa mídia. Notou-se que os adolescentes estão preferindo cada vez mais passar tempo se divertindo em casa que na rua. Dizem que se você já passou oito anos de sua vida assistindo TV, em média 3h55 por dia, já ficou um ano e três meses cultuando a telinha. Segundo a pesquisa, essa é a média dos brasileiros entre 12 e 17 anos.

Outras análises mostram que uma pessoa que assiste em média três horas de TV por dia, aos 75 anos terá passado nove deles em frente ao aparelho. Parece exagero, mas isso é o que acontece quando pessoas se deixam levar inteiramente pela influência midiática.

Determinados veículos, principalmente os segmentados, também são alvo de adoração. Milhares de indivíduos ociosos esperam avidamente suas revistas sobre computador, futebol, fofoca, moda e mulheres; resposta a suas orações.

Hoje, a religião da mídia possui mais praticantes que a Igreja Católica. Está presente em todas ruas; mais que a Igreja Universal. Tornou-se mais popular que os movimentos carismáticos. Tornou-se tão prejudicial quanto a falta de religião. Midiolatria, isso sim é pecado.

Mídia catequizada e Igreja em alta

[Daniel Lüdtke]

“Quem empilhou e separou esses jornais sobre o papa?”, perguntei a uma estagiária da agência. Depois do gesto dela de desconhecimento, percebi meu erro e sorri alto. Tratava-se apenas de uma pilha comum de jornais. Ninguém tinha separado os periódicos por tema. A própria mídia fizera isso.

Os meios de comunicação alardearam a visita de Bento 16 ao Brasil com meses de antecedência. O Estado de S. Paulo trazia a contagem regressiva para o grande dia no cada caderno especial “O papa no Brasil”. Mas, além de antecipar e cobrir o evento com muita técnica, a mídia deixou se envolver emocionalmente com o fato. Agiu como uma devota extasiada diante do religioso. A conseqüência foi uma exaltação da fé católica em detrimento das demais. Poucos foram os momentos de sobriedade laica.

“O Estado é laico. A mídia é laica?”, perguntou a última edição do Observatório da Imprensa aos internautas. Até 23 de maio, 81% deles responderam “não”.

Isso foi visível. Segundo a mídia, a real perspectiva religiosa no Brasil é o fortalecimento da Igreja Católica. Propagou-se a idéia de que ela é a Igreja com “i” maiúsculo. O resto é seita.
Em uma das manchetes do Jornal Nacional os evangélicos foram chamados indiretamente de seita. Já O Estado de S. Paulo, não poupou o uso do adjetivo na edição de 10 de maio – no caderno especial sobre a vinda do papa, com 12 páginas. Em outros textos, igrejas evangélicas que estão em ligação ecumênica com a Igreja Católica são chamadas de “denominações cristãs”. As demais são seitas.

Em alta?

Há uma constante superênfase na Igreja Católica nas fotos, na linguagem e na ideologia das entrelinhas. A Globo, que há quase 40 anos transmite a “Santa Missa”, mostrou sua estrita ligação católica desde a cobertura da escolha do novo papa. E a Globo sempre lucra com isso. A chegada dele ao Brasil fez a emissora subir 75% na audiência.

A mídia raramente mostra a queda gradual de membros da Igreja, além do crescente número de católicos não-praticantes. Ela mostra a Igreja em ascensão. Poucos enfatizaram a presença de menos de um terço do esperado na missa em Aparecida, e os que o fizeram, responsabilizaram o medo de congestionamento.

O Estadão, que em alguns momentos idolatrou o líder eclesiástico, ousou publicar, em 9 de maio, pesquisa que mostrou 33,3% dos católicos como não satisfeitos com a religião; enquanto que 90,7% dos que deixaram o catolicismo estão realizados na nova denominação. Oscilou, como muitos, entre um jornal sério e um house organ do Vaticano.

A Folha Online pareceu também ter percebido o excesso monotemático e, entre as mais de 50 notícias diárias sobre o papa no site, o jornal republicou uma série de reportagens chamada “saiba mais sobre religiões”. Além de abordar o Cristianismo como um todo, tratou de budismo, espiritismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, cientologia e teoltecas. É como se o jornal estivesse dando uma mensagem: olhe, ainda existem outras religiões no mundo!

Lorota canônica

Muitas matérias tiveram o tom das revistas populares de fofoca. Mesmo Folha Online aproveitou o momento para desenvolver-se nesse segmento. “ Papa volta a acenar para fiéis que fazem vigília no mosteiro de São Bento”, publicou na quinta, 10, às 12h47. Duas horas depois outra notícia relevante: “Papa reaparece na sacada do mosteiro pela terceira vez para saudar fiéis”. O jornalista informa que o papa apareceu ao público após o almoço, e fez questão de informar o cardápio: “o papa comeu nhoque de mandioquinha acompanhado de vinho selecionado”.

“Saiba como é o quarto do papa em Aparecida”, divulgou também a Folha no sábado, 12. O Estadão, em 9 de maio, dedicou uma página inteira para mostrar os aposentos do papa no mosteiro São Bento. Mas a matéria vencedora foi: “ Papa descansa em seu quarto no mosteiro de São Bento”. Realmente foi muito importante saber que ele também dorme.

Aliança

Pouco se falou sobre a intenção da visita do papa ao Brasil. Apenas excessos sobre a fé dos brasileiros e exploração imagética do eclesiástico.

A passagem do pontífice pelo País tentava o estreitamento ainda maior entre Igreja e Estado. O Estadão, em 8 de maio, publicou reportagem afirmando que o Vaticano não conseguiria atingir seus objetivos principais na vinda do papa, que seriam “a assinatura de um acordo com o governo garantindo à Igreja todos seus direitos no território nacional, inclusive a consolidação de todas as isenções fiscais que recebe, obrigações no setor educacional e mesmo a autorização para que missionários possam entrar em reservas ecológicas e indígenas”. Segundo o texto, um dos temores do governo seria a pressão evangélica para acordo semelhante.

Uma coisa é certa: com o apoio dos meios de comunicação, com certeza o papa alcançará seus objetivos. Não foram poucas as vezes que o líder católico se reuniu com jornalistas. No avião em que veio ao Brasil, 70 jornalistas o entrevistavam durante toda a viagem. Recentemente, também, Bento 16 agradeceu aos profissionais pela cobertura da transição papal e disse que deseja dialogar mais com a mídia.

Crescendo essa ligação entre catolicismo e mídia, aliada ao ecumenismo sob o guarda-chuva da Igreja Católica Romana, a considerada herdeira direta dos apóstolos se consolidará. Esta é uma perspectiva certa. Resta saber se a Idade Média continuará somente no passado.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Che Guevara dos tempos bíblicos

[Daniel Lüdtke]

Para quem acha que o Jesus da revista Veja é totalmente diferente do da Superinteressante, é aconselhável fazer uma reavaliação. Ambas, publicadas pela Editora Abril, são repetitivas ao abordar a pessoa de Cristo. A tendenciosidade, quase inevitável ao se falar em religião, estampa-se escancaradamente nas páginas evolucionistas da Super. Em Veja, é mais nas entrelinhas.

Todos os artigos giram basicamente em torno de temas como (1) provas de que Jesus não nasceu em Belém e sim em Nazaré; (2) possibilidade de Cristo ser essênio - uma seita da época; (3) descoberta de 1968 de um homem de mais ou menos 30 anos, crucificado no tempo de Jesus; (4) histórias absurdas dos livros apócrifos (não canonizados); etc.

As duas revistas são idênticas mesmo quando tratam Jesus como um revolucionário do mundo antigo. Veja, mais voltada para a massa, parece tratar disso com maior suavidade. Isso se deve ao fato de que seu público-alvo é formado por maioria esmagadora de católicos e um crescente número de evangélicos - afirmando o quadro religioso do Brasil. Daí, falar de Jesus explicitamente como um Che Guevara poderia ser chocante demais.

A matéria de capa de Veja de 25 de dezembro de 2002 - "As faces de Jesus" - mostra Cristo como mais um entre muitos. "Hoje é fácil enxergar a beleza da mensagem de Jesus, mesmo que não se acredite em sua origem sagrada", diz o texto. Quem não acredita? O autor do texto? Deve ser.

Essa afirmativa, contudo, aparece escondida no amontoado de frases que parecem enaltecer a Jesus. O respeito a Cristo mostra-se em pequenos detalhes, como usar letra maiúscula nos possessivos que a Ele se referem - "Seu rebanho", por exemplo.

No entanto, é inegável o caráter ecumênico do semanário. Na mesma edição, aparecem outras matérias acerca de Jesus. Em "O mestre invisível", Cristo é mostrado como um homem que trouxe soluções para o mundo moderno: solidariedade, paz, respeito e amor.

Em "A ciência à procura de Cristo" Jesus é "a mais influente personalidade de toda a história humana". Como sugere o nome, a reportagem fala da busca científica e arqueológica em comprovar a existência de Jesus.

Em "A sobrevivência da fé" a ciência é criticada por ter tentado apagar Jesus da história. Mesmo tendo sido "morto" por Karl Marx, Charles Darwin, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, "Deus continua vivo no mundo", discute Veja. De maneira relativamente neutra mostra a posição dos cientistas que crêem e dos que não acreditam.

A autora, Isabela Boscov, aparentando imparcialidade, diz que não consegue ver alguém se apegando a teorias como o Big Bang ao estar em um avião em queda. No tópico "E disse Jesus...", Veja apresenta dezenas de citações de Cristo de cunho social.

Arquivo

Na edição de 15 de dezembro de 1999, "Jesus 2000", Veja apresenta o Cristo histórico, apontando positivamente as tendências da religião cristã na mudança da contagem dos anos e a sua adaptação ao mundo moderno.

Dando uma olhada no arquivo encontramos algumas matérias não tão "cristianizadas" como as citadas. Em "O Jesus da história", de 23 de dezembro de 1992, o autor, Roberto Pompeu de Toledo, comenta sobre a vida de Jesus: "Não há história mais cheia de furos, esta é a verdade. Os relatos são confusos, as zonas de sombra se sucedem, as contradições abundam". As divergências apontadas por eles são tão grandes e enfatizadas que mais parecem tentar negar a existência de Cristo.

Em "A morte de Jesus", publicada em 12 de abril de 1995, Cristo está preste a ser preso e portanto "acompanha-o uma turba armada de espadas e paus'". Será que Jesus era um guerrilheiro? Veja declara que o ato de Cristo entrar no templo e derrubar as mesas dos cambistas que comercializavam ali se refere a um "ato contra o poder e a política dominante".

No mesmo artigo são trazidas opiniões de outros que acreditam que "Jesus não era um subversivo". Todavia, a idéia que fica na mente parece ser a de um Jesus revoltado com o governo da época, totalmente oposto aos quadros renascentistas - também questionáveis, por sinal.

Ciência versus religião

E a Superinteressante? Por ser voltada para temas de divulgação científica - entre eles, a evolução -, parece incoerente abordar a Jesus como sendo o criador do universo, como ainda acredita a maioria dos cristãos. A parcialidade, neste caso, vai para o mesmo lugar que a santidade de Cristo.

Parece que a Super gosta de mexer onde não está apta. Na verdade, a revista gosta de falar de temas polêmicos e que dão repercussão. Consegue!

Com prepotência visível, a Super estampou em dezembro de 2002 "A verdadeira história de Jesus". Hum? Ouvi verdadeira história? No artigo, dentre outras abordagens, o autor acusa os evangelhos de serem parciais ao tratarem da realidade de Jesus - sendo que, o próprio autor, não percebe sua total parcialidade. Nega, por exemplo, afirmativas como a de Jesus ter nascido em Belém [ver postagem A "tendenciosa" história de Jesus - por Superinteressante].

No mesmo texto, Jesus Cristo é apresentado como um homem motivado por um sentimento de injustiça social e um entre muitos curandeiros que se valiam de milagres subversivos, realizados para desafiar os líderes do templo. Deixa ainda transparecer a idéia de que o corpo de Jesus até hoje nunca foi encontrado porque o corpo dos crucificados era comido pelas aves. E o que dizem os teólogos que acreditam na sua ressurreição? Perdão! Esqueci que esse tipo de coisa não é provada pela ciência.

Como se não bastasse, a Superinteressante também publicou em julho de 2002: "A Bíblia passada a limpo". De acordo com o artigo, "o que sabemos com certeza é que Jesus foi um judeu sectário, um agitador político que ameaçava levantar os dois milhões de judeus da Palestina contra o exército de ocupação romano".

Algumas coisas nunca entenderemos. Jesus é sempre mostrado como um homem raivoso, provocador e subversivo. Enquanto isso, outros líderes religiosos do passado ganham grandes "bajulações" por parte das revistas. Na Super, em "O iluminado" (março/2002), Buda ganhou muito mais destaque e foi apresentando de maneira muito mais convincente.

Longe de ser um Che Guevara dos tempos bíblicos, Jesus é uma figura que vai além da retratação feita por Veja e Superinteressante. Se a opinião dos editores é contrária, tudo bem! Mas os dois lados da moeda têm que ser mostrados.

A religião da Nature

[Daniel Lüdtke]

Com objetivo de se opor ao movimento de reafirmação criacionista da Igreja da Inglaterra no século 19, nove cientistas decidiram formar uma sociedade onde pudessem desenvolver suas pesquisas científicas longe da intromissão da igreja e do fogo do inferno – criaram, assim, o X-clube. Esse grupo era formado por cientistas ilustres, entre eles, Thomas Huxley, Joseph Hooker, Herbert Spencer e Thomas Hirst. Este último, ao descrever a primeira reunião do X-Club, afirmou que a união do grupo foi motivada pela “devoção à ciência, pura e livremente desassociada dos dogmas religiosos”. Nasceu aí mais uma religião.

A “religião científica” do X-Club também ganhou a uma “bíblia” para difusão de suas idéias: a revista Nature. Joseph Hooker e Thomas Huxley foram os fundadores do periódico, publicado a partir de 4 de novembro de 1869. Até hoje, inúmeras contribuições foram dadas pelo semanário. A Nature, por exemplo, foi a primeira revista a divulgar a descoberta do raio X, em 10 de março de 1896, além dos posteriores estudos sobre a estrutura em dupla hélice do ADN e do buraco na camada de ozônio. No campo do evolucionismo, entretanto, ao defender sua posição dogmática da origem da vida, a Nature comete pecados.

Na capa de 28 de abril de 2005, a Nature estampou a seguinte nota: “Esta revista contém material sobre evolução. A evolução por seleção natural é uma teoria, não um fato. Este material deve ser abordado com mente aberta, estudado cuidadosamente e considerado criticamente”. A priori essa parece uma afirmação sincera de cientistas conscientes da carência do empirismo em muitas das teorias macro-evolutivas. Mas trata-se de ironia das mais ferrenhas. O texto imita os adesivos usados sobre os livros- texto do Ensino Médio dos Estados Unidos. O editorial e a matéria principal abordam a preocupante infiltração do criacionismo no mundo acadêmico e possíveis atitudes para freá-lo.

Outro editorial da Nature trouxe a seguinte afirmação: “O mundo faz simplesmente mais sentido sem a existência do deus, e as intervenções religiosas são ofensivas ou irrelevantes”. Nota-se, dessa forma, o posicionamento dogmático da revista desde os primórdios até hoje. A revista defenderá seu posicionamento mesmo sob a necessidade de uma guerra santa.

Pecados

Em janeiro de 2003, a Nature estampou numa de suas capas o achado do dinossauro chinês de quatro asas. Esta descoberta foi considerada uma das maiores do ano – por explicar como as aves, descendentes dos dinossauros, teriam aprendido a voar. Entretanto, este achado foi uma fraude, segundo o palentólogo Tim Rowe. O fóssil seria, na verdade, restos de duas espécies de dinossauro e uma de ave. Rowe disse que alertou o editor da Nature, Henry Gee, sobre a possibilidade de fraude, mas Gee afirmou não ter “nada definitivo” sobre o assunto.

Nota-se que, mesmo na ausência de certezas, supostas descobertas que corroboram o evolucionismo são alardeadas. Trata-se de apologética científica.

Outro pecado da Nature, bem como da comunidade científica em geral, é tirar conclusões precipitadas a partir de um pequeno achado fóssil, apresentando sua reconstituição como verdade absoluta, prova cabal de sua crença.

Um exemplo claro foi a nova descoberta de nove dentes de gorila, datados de 10,5 milhões de anos, indicados como importantes para “ajudar a preencher uma grande lacuna no registro do fóssil”. Mas como esses poucos dentes são evidência de que os homens vieram de um ancestral símio? Lá no meio do texto, os paleoantropólogos admitem: “Nós não sabemos nada sobre como a linha humana emergiu realmente dos grandes macacos”. Tecnicamente essa descoberta não seria uma evidência para o evolucionismo devido à imprecisão de dados, mas é retratada como tal.

Por outro lado, descobertas que confirmam a Bíblia são pouco divulgadas ou somadas a outros dados que inibem a possibilidade de serem compatíveis com as crenças cristãs. O artigo “Human evolution: Pedigrees for all humanity”, publicada em 30 de setembro de 2004, na área de estatística populacional, garantiu que toda a humanidade converge num único ancestral e que este existiu há poucos milhares de anos. Esta notícia, que mais parece apontar ao relato bíblico de que Noé seria ancestral comum a todos os seres humanos, aparece na Nature sob ótica antiteísta.

Em 1998, a Nature publicou "Leading scientists still reject God". No texto, mostra-se que a crença em Deus entre os cientistas de elite enfraqueceu a partir do início do século – apenas 7% acreditam. Enquanto isso, os outros 93% são apresentados como não tendo religião. Mas a grande verdade é que esses 93% também têm uma religião. Nela, Deus não é o objeto de adoração, mas a própria ciência. Esses crentes do evolucionismo farão qualquer coisa para proteger sua doutrina de influências “heréticas” como o Criacionismo, ou que Inteligent Design, que chamam de “Criacionismo disfarçado”. A Nature, por sua vez, como principal veículo dessa religião, continuará manipulando descobertas e informações de modo a confirmar algo que não se pode precisar empiricamente: a origem da vida.

A "tendenciosa" história de Jesus - por Superinteressante

[Daniel Lüdtke]

A capa da Superinteressante de dezembro de 2002 trombeteou: “A Verdadeira História de Jesus”. A verdade, todavia, elemento primordial de um texto jornalístico, deu lugaro ao sensacionalismo, unilateralidade e distorção! Neste texto, serão estudados os principais autores-base do texto, seus argumentos e linhas histórico-teológicas. Serão verificados os pontos apresentados como verdade por Rodrigo CAVALCANTE, autor da reportagem, e os deslizes éticos de jornalismo na mesma.

Chamada sensacionalista

A chamada da revista Superinteressante de dezembro de 2002, de verdade não tem nada. Sensacionalista, a manchete indica trazer informações bombásticas; novidades sobre Jesus. Entretanto, o que traz são assuntos mal resolvidos, argumentados por autores liberais, numa visão unilateral do Jesus histórico.

Em entrevista com Adriano Silva, diretor de redação da revista, perguntou-se quanto à chamada da reportagem. Silva respondeu que a intenção foi fazer uma “licença poética” (TORRES:2003).Talvez essa possa ter sido a intenção do autor, mas o que chegou aos leitores foi um texto sensacionalista, do tipo “prometeu e não pagou”[1]; afronta infundada à veracidade dos evangelhos e à crença de milhares de pessoas.

No Observatório da Imprensa, Isabel Rebelo ROQUE argumenta que os jornalões brasileiros, como Folha de S. Paulo, estão sofrendo de “ausência de suplementos científicos”. Para exemplificar a desqualificação dos mesmos, cita a Superinteressante como exemplo: “manchetes bombásticas que, no mais das vezes, criam uma expectativa de consistência que não se confirma ao longo da leitura. Em geral, tratam de estudos recentes ainda carentes de embasamento e aceitação no meio científico. Isso, em vez de passar ao leitor um sentimento de participação no processo, faz dele um alienado, um objeto à deriva, uma angustiada cobaia que na edição seguinte lerá que aquilo tudo ´não era bem assim´. Isso quando a coisa não pára por ali mesmo, e ele fica com a capenga informação inicial (2002)”.

Os tópicos a seguir abordarão os autores nos quais a reportagem foi baseada e as ditas “verdades” da Superinteressante, provando assim o caráter unilateral do texto na apresentação de seus discursos.

Reportagem baseada em autores liberais

Os principais autores citados por Rodrigo Cavalcante, autor da reportagem, são: John Dominic Crossan, Richard Horsley, André Chevitarese, John P. Méier, Jaldemir Vitório. No capítulo anterior falou-se do grave erro jornalístico de selecionar fontes para expressar opinião própria. Todavia, esse parece ser um dos deslizes cometidos por CAVALCANTE. De linha liberal, os autores são citados ao longo do texto sem nenhuma opinião contrária.

Crossan[2], por exemplo, é um padre Jesuíta da ala ultra-liberal. Para ele o Jesus histórico é totalmente distinto do Jesus aceito pela fé. Crossan é seguidor das idéias de Albert Schweitzer[3], que afirmava que Jesus era um louco que anunciava o reino apocalíptico de Deus[4].

Contudo, como o reino de Deus não veio, na ótica de Schweitzer, este erro ocasionou sua morte.
Horsley[5], por sua vez, retrata o relato dos evangelhos como o documento de um movimento. Analisando-o, Martinus de BÔER afirma que para Horsley, Jesus e seus discípulos formavam um “movimento popular oposto à elite política e cultural de governantes e seus representantes, os escribas”. Segundo Horsley, “na oração pelo reino, Jesus ensinou ao povo a pedir ao Pai celeste pelo pão da sobrevivência e pelo cancelamento de dívidas”. Percebemos aí claramente a tendência liberal de Horsley.

Na mesma linha não-conservadora encontra-se John P. MÉIER, historiador moderno, padre e ex-presidente da Associação Bíblica Católica. Seu caráter liberal pode ser claramente comprovado em seu livro Um Judeu Marginal, onde afirma que Jesus não nasceu em Belém e realizava seu ministério em Jerusalém na época das grandes festas, “quando as grandes multidões de peregrinos lhe proporcionariam um público que, de outra forma, ele não conseguiria atingir (MÉIER:1993, 401)”.

Quanto aos outros autores, embora não se tenham informações consistentes, nota-se seu feitio liberal através de seus comentários na reportagem. Enquanto os tradicionais baseiam-se estritamente nos evangelhos, os liberais tendem a especular.

Idéias apresentadas como verdade


Estudar as inúmeras idéias defendidas por Rodrigo CAVALCANTE tornaria este trabalho muito extenso. A partir daí, abordaremos os principais pontos, dispostos a seguir. A análise jornalística da reportagem buscará os conceitos de imparcialidade, transparência e exatidão do texto.

Jesus nasceu em Nazaré

No suspensório da reportagem aparece: “Ele não nasceu em Belém”. Uma afirmação convicta que adiante, no texto, é apresentada como uma possibilidade: “Provavelmente Jesus não nasceu em Belém”. Em outro momento o autor apresenta argumento de Valdemir Vitório: “Há quase um consenso entre os historiadores de que Jesus nasceu em Nazaré”. Mas afinal, Jesus nasceu ou não nasceu em Nazaré?

A imprecisão dos argumentos denota insegurança no discurso. Enquanto os próprios evangelhos afirmam que foi em Belém (“Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia...”)[6], a reportagem, sem argumentos sólidos, declara que não foi.

Além do mais, a única visão que consta na reportagem é a de que “provavelmente” Jesus tenha nascido em Nazaré, e não em Belém. Autores como Rodrigo P. SILVA, professor de Filosofia e Antropologia e Curador Adjunto do Museu Paulo Bork de Arqueologia Bíblica do Centro Universitário Adventista de São Paulo e autor de A arqueologia e Jesus, alegam que Jesus nasceu mesmo em Belém. Se não há consenso geral sob determinado fato, aquela vertente não pode ser tida como verdade absoluta. Entretanto, isso é o que “A Verdadeira História de Jesus” mostra.

É lenda a história de Herodes e a matança das crianças

Expõe CAVALCANTE: “(...) A terrível execução dos de recém-nascidos ordenada por Herodes (...) teria sido uma ‘licença poética do texto’, dessa vez para simbolizar que Jesus é o novo Moisés.” Na legenda da foto 1 a afirmativa é confirmada, articulando-se que esse fato “não passa de lenda”.

Enquanto CAVALCANTE tenta provar a inexistência do ocorrido, relatado em Mateus 2:16, autores como Russel Norman CHAMPLIN, teólogo tradicional, mostra o contrário: “Herodes, que facilmente assassinou sua esposa e filhos, achou fácil matar alguns infantes desconhecidos. As crianças mortas eram não só de Belém, mas também da aldeia vizinhas, pois Herodes quis ter a certeza de que o filho de Maria não escaparia. O número de crianças mortas provavelmente não foi grande (A. T. Roberson calcula que houve mais ou menos quinze a vinte crianças mortas). Devido a tão exíguo número, Josefo e outros historiadores não registram o incidente. Em comparação às atrocidades cometidas por Herodes, isso não se notabilizou (2002:282).”
Para composição de uma reportagem bem embasada, transparente e exata, Rodrigo CAVALCANTE deveria ter mencionado autores que contrapõem a idéia central. Não fazendo assim, comprometeu seu texto, tornando-o unilateralista e tendencioso.
Magos e fuga ao Egito não existiram

Embora o capítulo 2 de Mateus descreva a visita de magos a Jesus e em seguida a fuga de sua família ao Egito, CAVALCANTE rebate: “(...) A fuga de Maria e José para o Egito também teria sido uma ‘licença poética.’” Discute ainda: “Até os simpáticos três reis magos estariam ali para representar que Jesus foi reconhecido como messias por povos do Oriente - e quase nenhum historiador defende que, de fato, eles tenham existido.”

Acontece que a ausência de provas não é prova de ausência. O fato de não existirem fontes extra-bíblicas que comprovem esses ocorridos não quer dizer que são irreais. Entretanto, apresentar como verdade meras especulações, não é condizente com o jornalismo sério, e sim com o entretenimento.

Jesus foi um agitador político

Aqueles que conhecem as idéias dos teólogos liberais reconhecem neste ponto um típico argumento dessa linha teológica não-conservadora. CAVALCANTE declara: “No meio da multidão, pouca gente deve ter se comovido com a prisão e morte de mais um judeu agitador”. Semelhantemente, afirma Horsley: “Não é à toa que surgiram neste período vários movimentos populares de contestação ao poder romano, do qual Jesus era mais um representante.”
Descaracterizando o conceito de divindade de Cristo, defendido pelos teólogos conservadores, e apresentando o “Cristo arruaceiro” como o verdadeiro, CAVALCANTE peca na ética. Em assuntos como este é praticamente impossível alegar verdade incondicional.

Prova disso é que em maio de 2003 a revista Terra publicou a reportagem “A ciência encontra a Bíblia”, contraponto as idéias da Superinteressante. A revista Terra parece ter uma outra verdade bem diferente: “Rebelde político, arruaceiro, criador de uma seita, feiticeiro. Muitas são as definições que já deram a Jesus. Mas a verdade é que mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo crêem que ele era o que dizia ser: o filho de Deus (CAVALCANTI:2003, 56)”.

Existiram dois Jesus


Mais uma excêntrica prova de unilateralidade é mostrada na reportagem de Rodrigo CALANCANTE, ao expor tendenciosamente uma idéia liberal que prega e existência de dois Jesus distintos. A citação a seguir, apresentada como verdade, não foi em nenhum momento confrontada com opinião de teólogos de linha conservadora: “Pode parecer estranho, mas para os estudiosos há pelo menos dois Jesus. O primeiro, que dispensa apresentações, é o Cristo (o ungido, em grego), cuja história contada pelos quatro evangelistas deixa claro que ele é o enviado de Deus para salvar os homens com a sua morte.” Continua: “O outro Jesus (...) é Yeshua, o homem que morreu sem chamar muita atenção dos cidadãos do Império Romano.”
A parcialidade é tanta que CAVALCANTI coloca: “(...) Para os estudiosos há dois Jesus”. Que estudiosos? Logicamente isso se refere aos liberais. Mas por que isso não é mencionado no texto? Onde fica a transparência do jornalismo?

A idéia apresentada acima de dois Jesus parece basear-se nas idéias do teólogo liberal Martin Kähler, não mencionado na reportagem. Discursando sobre as idéias modernas e contemporâneas da Pessoas de Cristo, Edílson VALIANTE afirma que Martin Kähler faz diferença entre o Jesus da história e o Jesus da fé. O Jesus histórico é “o Jesus atrás dos evangelhos, que tinha pouca influência, capaz de conquistar apenas 12 discípulos”. Esse foi o Jesus que morreu sem chamar a atenção, colocado na reportagem como Yeshua. O outro é “o Jesus da fé, que teve grande influência, como foi crido e pregado pelos apóstolos (VALIANTE:2002, 20).”

Milagres de Jesus tinham caráter subversivo

Esta idéia está intimamente associada ao “Jesus arruaceiro”, que veio desafiar a elite dominante. Em duas citações principais, Horsley argumenta: “Hoje é difícil de entender como um ato desses [curar doenças] era radicalmente subversivo.” Ainda: “Uma série de outros curandeiros também usavam esse ritual [realizar curas] para desafiar o poder do templo naquela época.”
Embora essa não seja uma verdade para os teólogos tradicionais e conservadores, CAVALCANTE mais uma vez insere citações liberais sem mencionar sua linha teológica ou objetar com outras idéias. Enquanto o texto diz que os milagres de Jesus tinham o objetivo de provocar o governo, teólogos como MCDOWELL e WILSON afirmam que os “milagres de Jesus (...) não foram obviamente realizados para inspirar temor, mas para confirmar uma mensagem (1999:304)”. Articulam ainda: “Para os judeus os milagres eram sinais apontados para verdades particulares que Deus desejava revelar (1999:299).” Desse ângulo, ficam então descartadas os motivos subversivos dos milagres de Jesus.

Jesus era analfabeto

Esse é o único tópico onde o autor permite a contraposição de idéias. De um lado aparece Richard Horsley: “Pra muitos historiadores, ele provavelmente era analfabeto. Segue: ”Não acredito que ele [Jesus] fizesse parte dessa parcela [dos que sabiam ler].” Do outro lado contrapõe Juan Urias: ”Apesar de ter vindo de uma família muito pobre, é difícil imaginar que as discussões polêmicas que ele teve com seus contemporâneos relatadas nos evangelhos possam ter sido feitas por um homem que não sabia ler.”

O confronto de idéias aparece somente perto do fim da reportagem. Acontece que se trata de um ponto de pouca relevância. Por que CAVALCANTE não confrontou idéias nos assuntos polêmicas? Pseudoparcialidade parece ter sido usada aqui para dar um ar de transparência ao texto. KOVACH e ROSENSTIEL, em Elementos do Jornalismo, chamam isso de trapaça.

[1] Na mesma entrevista, Adriano comenta sobre a chamada da reportagem: “Existem as chamadas criativas, agressivas. Outras, bem diferentes, são as chamadas que cometam estelionato editorial - prometer e não entregar. Acho que a Super está longe disso.”
[2] Ver: CROSSAN, John Dominic. Jesus, Uma Biografia Revolucionária. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
[3] Ver: SCHWEITZER, Albert. Minha Vida e Minhas Idéias: Albert Schweitzer. São Paulo: Melhoramentos, 1931.
[4] Ver: SILVA, Rodrigo P. A Arqueologia e Jesus. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária, 2001. Pág. 14, nota 8.
[5] Ver: HORSLEY, Richard A.; HANSON, John S. Bandidos, Profetas e Messias: Movimentos Populares no Tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.
[6] Citação de Mateus 2:1. Outras passagens dos evangelhos onde é confirmado o nascimento de Jesus em Belém são: João 7:42 e Lucas 2:4-7.