sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mídia aponta ausência de provas como prova de que Moisés não existiu

[Daniel Lüdtke]

A manchete do G1 (20/04/08) alardeia: “Moisés pode não ter existido, sugere pesquisa arqueológica”. “O que será que os arqueólogos descobriram?”, é a pergunta que logo vem à mente. Bem, na verdade, nada foi descoberto. Trata-se de mais uma teoria firmada na ausência de documentos. É simples: Se não achamos nada específico sobre Moisés, é porque ele não existiu. Palmas para complexa e profunda “análise científica”.

Embora a reportagem admita que o livro de Êxodo pode “ter tido uma origem em acontecimentos reais”, Moisés e os acontecimentos ligados à libertação do Egito são tomados como floreios de uma história simplória e insossa.

Antes, drogado. Agora... quem sabe?

"O Moisés da Bíblia é claramente 'construído'. Pode até ter existido um Moisés lá no passado que inspirou o dos textos, mas nada sabemos dele com segurança”, opinou contraditoriamente Airton José da Silva, professor de Antigo Testamento do Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto (SP).

Na primeira sentença, Silva garante que Moisés foi um personagem “claramente construído”, montado pelo disse-que-me-disse da tradição oral. Afirma, entretanto, logo em seguida, que “nada sabemos dele com segurança”. O professor está claramente convencido do que fala ou não tem segurança de nada? O que ele quer dizer com isso?

Povo pequeno e sem graça

Embora a reportagem mencione a estela de Merneptah – coluna de pedra erigida pelo faraó Merneptah, onde menciona-se e comprava-se o nome de Israel como povo organizado já em 1200 a.C. –, reduz a nação a um insignificante amontoado de nômades. Para estes “pesquisadores” (o termo “especuladores” também cairia bem), a falta de documentos egípcios que relatem a presença israelita do Egito é “prova” de que eles nunca viveram de fato no país banhado pelo Nilo.

No texto, Milton Schwantes, professor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, especula que a libertação descrita do Êxodo pode até ter ocorrido, mas de maneira bem menos espetacular que a narrativa bíblica aponta. Ele ironiza: "É uma cena de pequeno porte – estamos falando de grupos minoritários, de 150 pessoas fugindo pelo deserto. Em vez do exército egípcio inteiro perseguindo essa meia dúzia de pobres e sendo engolido pelo mar, o que houve foram uns três cavalos afundando na lama".

Atravessando o mar... quer dizer, o pântano!

A passagem do povo de Israel pelo Mar Vermelho é um dos momentos mais marcantes de toda a história do povo, relembrado em hinos, orações e sermões bíblicos. Na reportagem, entretanto, o próprio autor faz uma afirmação sem ser apoiado por nenhuma citação:

O sentido original do hebraico Yam Suph, normalmente traduzido como "Mar Vermelho", parece ser "Mar de Caniços", ou seja, uma área cheia dessas plantas típicas de regiões lacustres. Assim, nas versões originais da lenda, afirmam estudiosos do texto bíblico, os "carros e cavaleiros" do Egito teriam ficado presos na lama de um grande pântano, enquanto os fugitivos conseguiam escapar. Conforme a tradição oral sobre o evento se expandia, os acontecimentos milagrosos envolvendo a abertura de um mar de verdade foram sendo adicionados à história.

Mais uma explicação mirabolante e nada sólida para os eventos bíblicos. Mais uma conjectura rotulada de “pesquisa científica”.

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